Antonio Gades nasceu em Elda (Alicante), em novembro de 1936, no seio de uma família humilde. Nesse mesmo ano seu pai parte como voluntário na frente de Madri em defesa da República Espanhola. Posteriormente toda a família se transfere para um bairro da periferia da capital. Aos 11 anos Gades deixa de Seu primeiro contato com a dança se deu Casualmente, “por fome”, aos 15 anos. Uma vizinha andaluza o aconselhara a inscrever-se na academia da mestra Palitos. Com apenas 3 meses de aprendizado foi contratado para atuar em um espetáculo de variedades. Aconselhada por Manolo Castellanos, Em 1961, após deixar a companhia de Pilar López, se transferiu para a Itália, onde trabalhou como bailarino e coreógrafo no Teatro da Ópera de Roma. É nesses anos 60 que começa a forjar seu personalíssimo estilo coreográfico. Para Gades era necessário eliminar todo o estilo pomposo de mau gosto (as lantejoulas, os virtuosismos que “prostituíam” então o flamenco), para tratar de trazer à luz a essência da dança. Em 1974 estreia, em Roma, Bodas de sangre, inspirada no drama de García Lorca, uma obra-prima que o consagrou em todo o mundo, junto com sua já consolidada companhia. Mas os fuzilamentos de 1975 na Espanha e um Em 1981, depois de um encontro com o diretor Carlos Saura, seu balé Bodas de Sangre virou filme. A dupla Gades/Saura se transforma em uma das maiores difusoras da arte do flamenco a nível mundial. O produtor Emiliano Piedra propõe a manutenção da parceria e em 1983 nasce o filme Carmen. No mesmo ano Gades cria o balé homônimo para o teatro, diretamente inspirado na narrativa de Prosper Merimée. O balé Fuego Gades recebeu numerosos prêmios, dentre eles o Prêmio Nacional de Teatro de 1970 para o melhor balé espanhol, o Prêmio Nacional de Dança de 1988 e o recém-outorgado Prêmio Nacional Especial de Honra “à Mestria na dança flamenca”, da Cátedra de Flamencologia de Jerez de la Frontera. A dissolução da companhia em 1998 não significa o afastamento de Gades dos palcos, já que a partir de então as reposições de seus balés se dão com outras formações. Faleceu em 20 de julho de 2004, após haver criado uma Fundação para proteger a integridade do seu legado artístico. Meses antes de falecer, visando proteger o seu legado, Antonio Gades criou uma Fundação. Uma instituição encarregada de zelar pelo seu patrimônio artístico, e que ajudasse a difundir a sua obra, fomentando, a partir dela, um maior conhecimento da dança espanhola em todo o mundo. Para lograr seus objetivos, a FAG mantém um arquivo que entesoura diferentes fundos relacionados A Fundação foi criada por Gades em 2004 e é presidida por sua filha, a atriz Maria Esteve, que trabalha para o cumprimento dos fins da entidade, com o apoio de sua viúva Eugenia Eiriz (diretora) e de seu colaborador próximo Josep Torrent. Sob a direção artística de Stella Arauzo (que ao longo de muitos anos dançou com Gades, sucedendo a Cristina Hoyos na interpretação de Carmen), e técnica de Dominique You (tantos anos iluminador e braço direito do O reconhecimento ao seu trabalho foi avaliado não somente pelo grande número de espectadores que presenciaram seus espetáculos, como também pelos prêmios recebidos, como o “Giraldillo de Oro” da Bienal de Flamenco de Sevilha, o Prêmio Demófilo da Fundação Machado, e o Prêmio do Teatro Rojas de Toledo, que enche de orgulho a companhia, por ser outorgado pelo público. A Compañia Antonio Gades é, desde novembro de 2006, Companhia residente em Carmen, o Espetáculo A versão para teatro de Carmen foi sendo concebida quase que paralelamente à filmagem da fita de Carlos Saura. O êxito obtido pelo filme — que surpreendeu inclusive os próprios artífices do milagre — sem dúvida animou Antonio Gades a realizar a sua versão teatral, obra-prima da dança espanhola que veio agregar-se ao seu repertório, que já contava então com duas obras de enorme peso artístico, Bodas de Sangre e a Suite de Os motivos que levaram Antonio a realizar este trabalho de criação se resumem em uma série de idéias que expôs nas diversas entrevistas coletivas que concedeu. Em sua opinião “Carmen não é uma mulher frívola nem uma devoradora de homens, mas uma mulher honesta que quando ama diz que ama e quando não ama diz que não ama. Ou seja: uma mulher livre. Não creio que seja uma A respeito do sucesso obtido em todo o mundo pela versão teatral, Antonio lembrava sempre da crítica na França, que dizia que “Merimée levou a Carmen para a França, mas nós voltamos a trazê-la para a Espanha”.
Antonio Gades, uma vida dedicada ao Flamenco
frequentar a escola, apesar de gostar muito de estudar, e busca trabalho para ajudar a família: primeiro como “office boy” no estúdio de um fotógrafo e, logo a seguir, como linotipista no diário madrileno ABC.
Pilar López acolheu o jovem bailarino, e o incorporou à sua companhia,
batizando-o com o nome artístico de Antonio Gades. Com a mestra estudou dança clássica paralelamente a todas as disciplinas da dança popular espanhola: a jota navarra, o flamenco andaluz e as danças de escola. Permaneceu por nove anos com aquela que consideraria sempre “sua Mestra”. Em 1960 empreendeu sua primeira
turnê ao Japão como primeiro bailarino. Foi nesse período que se deu outro encontro fundamental: o do mundo do grande poeta andaluz Federico Garcia Lorca, através da leitura de uma edição clandestina do seu Romancero Gitano.
Gades percebeu de imediato que seu meio de expressão mais autêntico seria o flamenco.
profundo sentido da responsabilidade moral o induzem a afastar-se da dança. Só a amizade e a persuasão de Alicia Alonso e outros bailarinos do Balé Nacional de Cuba — com os quais havia tido ocasião de trabalhar anteriormente — serviram para, três anos mais tarde, levá-lo de volta à dança e a continuar expressando suas ideias através dela. Convidado em 1978 pela formação cubana, dá início a uma turnê pelos Estados Unidos, ao longo da qual interpreta o papel de Hilarion
em Giselle. Nesse mesmo ano, a nova Espanha nascida a partir da chegada da democracia, o encarrega da criação e direção do Ballet Nacional Español.
Gades centra seu trabalho na formação e recuperação da memória coreográfica espanhola do século XX.
(1989) seguiu um caminho análogo, a partir do filme El Amor Brujo (1986), numa interpretação livre da obra de Manuel de Falla. Em 1994 estreia em Gênova aquela que seria sua última coreografia: Fuenteovejuna.
A Companhia e a Fundação Antonio Gades
com a figura de Gades, apoia a supervisiona a reconstrução de seus balés, edita publicações que aprofundam sua obra e promove atividades educativas destinadas a aproximar o publico em geral da dança espanhola e do flamenco. Como depositária dos direitos das obras de Antonio Gades, põe à disposição da nova Companhia seu
arquivo documental e gráfico, assim como os cenários e indumentárias, todos eles aspectos necessários à correta reconstrução dos bailados.
Mestre), a nova formação conta com vários membros da antiga companhia que, unidos aos novos integrantes, asseguram a transmissão das linhas que caracterizam a obra gadesiana, expressando as mais profundas inquietudes do ser humano, dentro de uma linguagem estética depurada e arraigada nas tradições e na
cultura do povo espanhol.
Getafe.
Flamenco. A estreia parisiense em 1983 foi um êxito excepcional de crítica e de público, situando Antonio Gades definitivamente na esfera dos mais importantes bailarinos e coreógrafos do mundo.
devoradora de homens. Carmen tem um conceito de classe, não tinha propriedade privada sobre seus sentimentos. Quando amava dizia e quando deixava de amar também. Além do que, tinha um conceito tal da liberdade, que preferiu morrer a perdê-la. Sempre a trataram frivolamente, apresentando-a como devoradora de homens. Mas Carmen tem algo essencial que é muito diferente de tudo isto: seu
conceito de classe e sua nobreza”.
Carmen foi tratada quase sempre de uma maneira bastante superficial e frívola e a Carmen é muito mais profunda do que isto. O genial bailarino não hesitava em afirmar que Carmen foi uma incompreendida, porque quando a obra foi escrita, em 1837, essa mulher escandalizou os puritanos e os que não conseguiam ver que ela representava a verdadeira emancipação da mulher. Dom José é um fugitivo, um
burguês que sai da sua classe e que não será fiel a ela. Tem aquele conceito arraigado da propriedade privada do amor. “Fiz Carmen porque eu não gostava daquela imagem estereotipada e falsa que tem, sendo uma mulher que quando ama se entrega sem reservas; ela não abandona a sua classe, mesmo quando
se encontra nas mais altas esferas.”